2025 começou pegando fogo, literalmente. Os incêndios em Los Angeles na primeira semana do ano nos lembraram mais uma vez que ninguém está ileso das consequências da era de extremos e de instabilidades que estamos adentrando se não agirmos rápido para reduzir as emissões dos gases de efeito estufa geradores do aquecimento global.
Entretanto, transformar os modelos que pautaram o desenvolvimento econômico até aqui e substituí-los ou transformá-los em soluções positivas para o planeta é complexo, envolve compromissos delicados, incluindo trade-offs de curto prazo no que tange a crescimento econômico ou estabilidade geopolítica, que precisam ser construídos entre muitas partes. Por exemplo, a Europa busca continuar na liderança da agenda da descarbonização, mas enfrenta pressão crescente sobre seus déficits fiscais e limites orçamentários.
Já Estados Unidos e China parecem estar mais focados na corrida por quem vai dominar os modelos de inteligência artificial generativa – que, por sinal, a cada prompt consome exponencialmente mais energia – e o acesso a materiais críticos. Decorrente disso, a postura dos bilionários das big techs nos eventos recentes é de se livrar de qualquer amarra que os limite de avançar nos seus termos.
A importância de estratégias locais e contextos globais: A realidade é que avanço na descarbonização da economia acontece em meio a um cenário global fragmentado e capturado por outras agendas, de modo que cada país precisa desenvolver uma estratégia própria baseada em seus ativos, visão de futuro e de desenvolvimento, capacidades, sistemas políticos e maturidade da sua sociedade civil e setor privado. O que funciona na China pode não funcionar na Europa ou no Brasil.
Neste contexto desafiador, o Brasil, com seus ativos naturais e com anos de desenvolvimento de ecossistemas em torno de algumas das soluções climáticas – como energia renováveis, minerais críticos, reflorestamento, etc. – é o único país que pode se beneficiar em termos de crescimento de PIB, renda e emprego da transição dos mais variados setores para modelos de mais baixa emissão de gases de efeito estufa.
Além das vantagens comparativas do patrimônio nacional, o país conta com um mercado de capitais sofisticado, empreendedores, executivos e profissionais talentosos e criativos, e, uma sociedade civil organizada e setor privado comprometidos e investidos em levar à frente iniciativas alinhadas à descarbonização da economia, pois entendem que é o único caminho para o Brasil realizar seu potencial na dinâmica econômica e geopolítica do século 21.
Oportunidades que a COP30 gera para o Brasil: 2025 marca um ponto de inflexão crítico para a cooperação climática e a ambição global. É o 10º aniversário do Acordo de Paris, ano em que os países atualizarão suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), o que será crucial para manter vivo o teto de 1,5 graus Celsius pactuado e evitar os cenários de aumentos ainda mais expressivos nas temperaturas.
Há muita expectativa sobre a COP30, uma vez que seus resultados pautarão os próximos 10 anos, e diferentemente das últimas, acontecerá na região Amazônica no país que, em 1992 no Rio de Janeiro, deu origem às COPs, ou, Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas. Três décadas depois da Eco-92, o Brasil tem a chance de consolidar seu papel como líder global, utilizando a sua habilidade diplomática e dando o exemplo por meio das inúmeras histórias de sucesso de negócios que empreendem e escalam soluções de baixo carbono nos mais diversos setores da economia, demonstrando a viabilidade de um modelo de desenvolvimento econômico positivo para o país, para os negócios e para as pessoas.
O papel do mercado financeiro para um modelo de desenvolvimento econômico sustentável:
Num momento em que responsabilidade fiscal e aumento de impostos dominam o debate econômico no Brasil e no mundo, a capacidade dos países entregarem na prática os compromissos de redução de emissões estabelecidos para os próximos anos dependerá em grande parte do setor privado e financeiro.
Isso porque, nunca foi tão necessário desenvolver soluções de mercado viáveis, escaláveis e rentáveis, e, para isso, estima-se que pelo menos ⅔ dos recursos necessários para investir ou financiar as promissoras soluções climáticas precisarão vir do capital privado local e internacional. Ou seja, um modelo de desenvolvimentos sustentável dependerá das inovações do mercado em termos de tecnologias, soluções e modelos de negócio, bem como da abertura do mercado financeiro em explorar novas teses e aplicar toda a sua sofisticação e inteligência dos seus profissionais em encontrar soluções de capital para os modelos alinhados à descarbonização da economia.
Este é um chamado para o setor privado e financeiro brasileiros para trabalharmos juntos no desenvolvimento de pipeline e de estruturas de capital que viabilizem cases bem sucedidos de soluções de baixo carbono nos vários setores da economia. Com isso, consideramos que podemos, mesmo num ambiente adverso, atrair mais recursos internacionais, e, redirecionar o capital para oportunidades rentáveis que nos coloquem na rota de inaugurar um modelo de desenvolvimento econômico que funcione para o Brasil na economia e geopolítica do século 21.
Fonte: Pipeline Valor