Gestores de fundos estão mais pressionados no mundo todo para conseguir rentabilizar seu negócio – seja por migração de investidores para renda fixa, deixando multimercados e fundos de ações, como no Brasil, seja na preferência por fundos passivos com taxas mínimas de administração, como nos Estados Unidos.
Em 2023, por exemplo, o volume total sob gestão na indústria global de fundos somou US$ 120 trilhões, alta de 12% naquele ano – mas os lucros das gestoras caíram 8,1%, apertados pelos custos, que saltaram 4,3%. Esse cenário tem dado o tom dos investimentos em tecnologia, onde o apelo dos algoritmos e da inteligência artificial estava na busca por ampliar o retorno dos investimentos e, hoje, tem se voltado para redução de custos, nota a Boston Consulting Group (BCG).
No estudo feito pela consultoria com gestores globais, intitulado “AI and the Next Wave of Transformation”, 72% acreditam que a IA generativa terá impacto significativo ou transformador para o setor nos próximos três a cinco anos. Do grupo, que representa US$ 15 trilhões em ativos, 66% fizeram da IA generativa uma prioridade estratégica, 75% estão dedicando capital e recursos humanos para a implantação da tecnologia a curto prazo e 29% estão comprometendo uma parte significativa de seu orçamento de inovação.
Mas só 16% dos gestores de ativos definiram uma estratégia completa e estão trabalhando na implementação em toda a empresa. “Para o gestor de ativos, se a possibilidade de receber mais ficou menor, o jeito é otimizar a base de custos. Grandes casas globais já estão usando um grau bastante alto de IA no exterior para tornas as operações mais eficientes, na consolidação de relatórios, comparação de empresas, e até análise de crédito”, diz Ricardo Tiezzi, sócio e diretor-executivo da BCG.
Ele conta que a BCG utiliza um robozinho que consolida informações de um setor e de uma companhia específica quando a consultoria vai traçar projetos. A estimativa da consultoria, compilando casos no mundo todo, é que a implementação de GenIA consegue cortar de 5% a 15% da base de custos de uma gestora. Isso inclui, por exemplo, uma faixa de 15% a 25% de ganhos de eficiência em vendas, 10 a 20% na gestão e execução de trade, e 15% em RH.
“O viés era encontrar alfa, usando algoritmos para análise quantitativa, para fundos de alta frequência, na busca por ativos que trouxessem diferencial de retorno. O que vimos agora é uma mudança do interesse, com viés de custo. Otimizar backoffice e pesquisa”, compara.
Ele avalia que a diferença será nas gestoras de maior volume e time, como as gestoras de bancos – mas dificilmente muda o ponteiro para um butique no Leblon com 15 funcionários. Para chegar ao resultado de corte de custos, a gestora precisa investir em média de R$ 5 milhões a R$ 20 milhões para o desenvolvimento de suas ferramentas de IA e treinamento da equipe.
“Já vemos firmas no exterior que têm 50% a 60% dos funcionários versados em IA e GenIA, enquanto no Brasil isso costuma estar centrado em um ou dois funcionários”, observa Tiezzi. “As assets proficientes em GenAI são as que vão sobreviver. Esperar já não é mais uma opção.”
Fonte: Pipeline