O governo federal tem encontrado dificuldades na formulação de medidas para tentar baratear os preços da comida que vai para a mesa dos brasileiros. Sem espaço fiscal para aumentar gastos públicos e consciente do estrago que ações mais intervencionistas poderiam causar no mercado, as medidas governamentais em gestação para atacar a inflação dos alimentos podem não ter efeito de curto prazo, como pretende o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Não existe mágica nem coelho para tirar da cartola. Não temos como fazer medidas do dia para noite, com efeito repentino. Somos uma economia de mercado”, ressaltou uma fonte graduada do Ministério da Agricultura.
A Pasta participa das discussões e deve apresentar propostas com potencial de gerar efeitos a médio prazo nos preços, disse a fonte, sem detalhar as sugestões que estão em “gênese”. Ela admitiu, no entanto, a preocupação com os custos de produção e, principalmente, com os altos juros cobrados nos financiamentos rurais atualmente, movimento intensificado pela escalada da Selic e a aversão ao risco do sistema financeiro após impactos do clima na produção e no bolso dos agricultores recentemente.
“Tudo isso vai para o preço dos alimentos. Temos que baratear custo e estimular a produção”, acrescentou. A Pasta tem reiterado nas conversas com o Palácio do Planalto que não há falta de alimento e que o país é superavitário em quase todos os produtos agrícolas — menos no trigo.
Vilões
Nas primeiras reuniões governamentais sobre o tema ficou pacificada a avaliação, disse a fonte, que o vilão da alta dos preços dos alimentos no Brasil é o dólar. O aumento do poder aquisitivo da população também influencia na manutenção dos índices em alta, já que há demanda para consumo.
“Não há margem do que fazer, mas o causador do impacto é o câmbio”, pontuou a fonte. A equipe se esforça para apontar que movimentos naturais do mercado, como oferta e demanda, têm afetado os preços mundialmente, como os do café.
No caso das carnes, tema que Lula explorou na campanha, que é usado pela oposição para atacá-lo e que afeta a popularidade do presidente, o cenário é influenciado pelo número maior de abates nos últimos dois anos, em especial de fêmeas. No fim de 2024, com o início da inversão do ciclo pecuário, começou a diminuir a oferta de animais para serem abatidos. A previsão é de diminuição na produção de carne bovina e consequente alta nos preços.
Intervenção
A fonte reiterou que qualquer ideia de “intervenção” está descartada no governo e que o conjunto de ações a ser finalizado e anunciado em breve vai focar mais em atividades fora da porteira que têm algum impacto na composição dos preços dos alimentos.
“É mais da porteira para fora do que para dentro. Nossa produção é superavitária e teremos boa safra”, disse.
Culpa da soja
Rondam em alas do governo federal críticas ao cultivo de soja no país e argumentações de que as lavouras da oleaginosa tiram espaço para produção de alimentos básicos, o que afetaria os preços finais.
“Não tem nexo falar que soja afeta a produção de alimento no Brasil, mas ainda há visão ideológica”, completou.
Fonte: Globo Rural