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segunda-feira, outubro 14, 2024
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Níveis de manejo do solo para avaliação de riscos climáticos na soja

Um desafio recorrente é o diagnóstico da qualidade do manejo do solo em glebas agrícolas, a fim de identificar fatores limitantes à produtividade das culturas, inclusive em situações de estresse, como o déficit hídrico. É importante frisar que as metodologias de diagnóstico precisam ser confiáveis e viáveis em larga escala. Nesse sentido, Debiasi et al. (2022) propõem a utilização de sete indicadores para definir níveis de manejo do solo (NM), que variam de 1 a 4, em que o NM 1 se refere ao menos adequado e o NM 4 ao mais adequado.

Nas últimas cinco décadas, houve aumento significativo da produtividade das principais culturas agrícolas no Brasil, em decorrência do melhoramento genético e do aprimoramento das técnicas de manejo e controle fitossanitário. O aprimoramento do manejo do solo em sistema plantio direto (SPD) foi fundamental para a competitividade das principias culturas graníferas produzidas no país. O SPD, quando implantado e conduzido em conformidade com as suas premissas, constitui-se na principal ferramenta do manejo conservacionista do solo em regiões com clima tropical e subtropical. As premissas que caracterizam o SPD envolvem a mínima mobilização do solo, restrita à linha de semeadura; a cobertura permanente do solo por culturas ou por seus resíduos; e a diversificação de espécies vegetais, via rotação, sucessão e consorciação de culturas. Estatísticas recentes indicam que o SPD é utilizado em cerca de 33 milhões de hectares no Brasil, o que demonstra a ampla adoção desse sistema de manejo do solo. No entanto, é consenso que a maior parte dessa área ainda não atende de forma integral às premissas do sistema, restringindo-se, em várias situações, apenas à mínima mobilização do solo pela eliminação de operações de preparo do solo. Assim, grande parte dos benefícios do SPD não é alcançada e problemas associados à ocorrência de erosão, degradação da estrutura do solo, elevação das perdas de produtividade em função de estresses climáticos e aumento da incidência de plantas daninhas têm sido frequentemente observados, ameaçando a sustentabilidade dos sistemas de produção de grãos.

Um desafio recorrente é o diagnóstico da qualidade do manejo do solo em glebas agrícolas, a fim de identificar fatores limitantes à produtividade das culturas, inclusive em situações de estresse, como o déficit hídrico. É importante frisar que as metodologias de diagnóstico precisam ser confiáveis e viáveis em larga escala. Nesse sentido, Debiasi et al. (2022) propõem a utilização de sete indicadores para definir níveis de manejo do solo (NM), que variam de 1 a 4, em que o NM 1 se refere ao menos adequado e o NM 4 ao mais adequado (Tabela 1). Os indicadores são: 1) tempo sem revolvimento do solo (anos); 2) porcentagem de cobertura do solo por resíduos vegetais na semeadura da soja; 3) saturação da CTC por bases (V%) na camada de solo de 0-20 cm do so,lo; 4) teor de Ca2+ na camada 20-40 cm; 5) porcentagem de saturação por Al (m%) na camada 20-40 cm; 6) índice de qualidade estrutural do solo (IQES), determinado por meio do Diagnóstico Rápido da Estrutura do Solo (DRES); e 7) diversidade de culturas, considerando os últimos três anos agrícolas.

A qualidade de manejo do solo pode ser utilizada para gerar resultados de Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) específicos para cada NM. Os NM 3 e 4 conferem maior infiltração e retenção de água no solo, menores perdas por evaporação e maior crescimento das raízes de soja no perfil do solo (Figura 1), reduzindo o risco de perda de produtividade frente a eventual déficit hídrico. Essa abordagem representa um importante avanço na metodologia do ZARC, uma vez que quantifica a redução de risco de déficit hídrico com manejo conservacionista do solo e, por conseguinte, estimula a adoção de boas práticas de manejo pelos produtores rurais e valoriza a assistência técnica especializada. Esse trabalho faz parte da rede ZARC, liderada pela Embrapa Agricultura Digital. A próxima etapa do trabalho é a validação dos NM em lavouras comerciais.

Tabela 1. Critérios e indicadores para enquadramento das áreas de cultivo de soja e milho em níveis de manejo (NM) (Debiasi et al., 2022). Quanto maior o o NM, mais adequado é o manejo do solo .

Indicador
Nível de manejo (NM)
NM1
NM2
NM3
NM4
1) Tempo sem preparo do solo em área total (anos)
< 3
3 a 5
6 a 8
> 8
2) Porcentagem de cobertura do solo na semeadura da soja
< 45
45 a 60
60 a 75
> 75
3) V% (0-20 cm)1
        CTC < 7,0 cmolc dm-3
     CTC 7,0 a 10,0 cmolc dm-3
     CTC > 10,0 cmolc dm-3
< 35
< 40
< 50
35 a 40
40 a 45
50 a 55
41 a 50
46 a 55
56 a 65
> 50
> 55
> 65
4) Teor de Ca2+ (cmolc dm-3)
    (20-40 cm)
< 0,5
0,5 a 0,7
0,8 a 1,0
> 1,0
5) m% (20-40 cm)2
> 20
10 a 20
5 a 9
< 5
6) IQEs – DRES3
< 2,0
2,0 a 3,0
3,0 a 4,0
>4,0
7) Diversidade de culturas considerando os últimos 3 anos agrícolas
Requisitos dos outros NMs não atendidos ou não informados
 – 4 cultivos; e
 – 2 espécies   vegetais; e
 – 2 famílias botânicas.
– 6 cultivos; e
– 2 espécies vegetais; e
– 2 famílias botânicas; e
– 1 cultivo exclusivo envolvendo plantas de cobertura do solo (solteiro ou consorciado) por mais de 4 meses OU 3 cultivos de consórcio grãos + cobertura ou 3 cultivos de cobertura na janela outonal ou de fim de inverno, com permanência na área por menos de 4 meses.
Sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) envolvendo o cultivo de pastagens por um ano ou mais na mesma área
– 6 cultivos; e
– 4 espécies vegetais; e
– 2 famílias BOTÂNICAS; e
– 3 cultivos envolvendo plantas de cobertura do solo (solteiro ou consorciado com outras plantas de cobertura ou para produção de grãos), com pelo menos 1 cultivo exclusivo por mais de 4 meses.
1 V% = saturação por bases (Ca2+ + Mg2+ + K+ / CTC pH 7,0); 2 m% = saturação por alumínio (Al3+/CTC efetiva); 3 IQEs = Índice de qualidade estrutural do solo, pelo diagnóstico rápido da estrutura do solo (DRES) – Ralisch et al. (2017).
Equipe envolvida no trabalho: Henrique Debiasi, Julio Cezar Franchini, José Renato Bouças Farias, Alvadi Antonio Balbinot Junior (Embrapa Soja); José Eduardo Boffino de Almeida Monteiro (Embrapa Agricultura Digital); Osmar Conte, Gilberto Rocca da Cunha (Embrapa Trigo); Moacir Tuzzin de Moraes (Esalq-USP); Fernando Antonio Macena da Silva (Embrapa Cerrados); Balbino Antônio Evangelista (Embrapa Pesca e Aquicultura); Anderson Carlos Marafon (Embrapa Tabuleiros Costeiros)

Fonte: Canal Rural

 

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