Um desafio recorrente é o diagnóstico da qualidade do manejo do solo em glebas agrícolas, a fim de identificar fatores limitantes à produtividade das culturas, inclusive em situações de estresse, como o déficit hídrico. É importante frisar que as metodologias de diagnóstico precisam ser confiáveis e viáveis em larga escala. Nesse sentido, Debiasi et al. (2022) propõem a utilização de sete indicadores para definir níveis de manejo do solo (NM), que variam de 1 a 4, em que o NM 1 se refere ao menos adequado e o NM 4 ao mais adequado.
Nas últimas cinco décadas, houve aumento significativo da produtividade das principais culturas agrícolas no Brasil, em decorrência do melhoramento genético e do aprimoramento das técnicas de manejo e controle fitossanitário. O aprimoramento do manejo do solo em sistema plantio direto (SPD) foi fundamental para a competitividade das principias culturas graníferas produzidas no país. O SPD, quando implantado e conduzido em conformidade com as suas premissas, constitui-se na principal ferramenta do manejo conservacionista do solo em regiões com clima tropical e subtropical. As premissas que caracterizam o SPD envolvem a mínima mobilização do solo, restrita à linha de semeadura; a cobertura permanente do solo por culturas ou por seus resíduos; e a diversificação de espécies vegetais, via rotação, sucessão e consorciação de culturas. Estatísticas recentes indicam que o SPD é utilizado em cerca de 33 milhões de hectares no Brasil, o que demonstra a ampla adoção desse sistema de manejo do solo. No entanto, é consenso que a maior parte dessa área ainda não atende de forma integral às premissas do sistema, restringindo-se, em várias situações, apenas à mínima mobilização do solo pela eliminação de operações de preparo do solo. Assim, grande parte dos benefícios do SPD não é alcançada e problemas associados à ocorrência de erosão, degradação da estrutura do solo, elevação das perdas de produtividade em função de estresses climáticos e aumento da incidência de plantas daninhas têm sido frequentemente observados, ameaçando a sustentabilidade dos sistemas de produção de grãos.
Um desafio recorrente é o diagnóstico da qualidade do manejo do solo em glebas agrícolas, a fim de identificar fatores limitantes à produtividade das culturas, inclusive em situações de estresse, como o déficit hídrico. É importante frisar que as metodologias de diagnóstico precisam ser confiáveis e viáveis em larga escala. Nesse sentido, Debiasi et al. (2022) propõem a utilização de sete indicadores para definir níveis de manejo do solo (NM), que variam de 1 a 4, em que o NM 1 se refere ao menos adequado e o NM 4 ao mais adequado (Tabela 1). Os indicadores são: 1) tempo sem revolvimento do solo (anos); 2) porcentagem de cobertura do solo por resíduos vegetais na semeadura da soja; 3) saturação da CTC por bases (V%) na camada de solo de 0-20 cm do so,lo; 4) teor de Ca2+ na camada 20-40 cm; 5) porcentagem de saturação por Al (m%) na camada 20-40 cm; 6) índice de qualidade estrutural do solo (IQES), determinado por meio do Diagnóstico Rápido da Estrutura do Solo (DRES); e 7) diversidade de culturas, considerando os últimos três anos agrícolas.
A qualidade de manejo do solo pode ser utilizada para gerar resultados de Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) específicos para cada NM. Os NM 3 e 4 conferem maior infiltração e retenção de água no solo, menores perdas por evaporação e maior crescimento das raízes de soja no perfil do solo (Figura 1), reduzindo o risco de perda de produtividade frente a eventual déficit hídrico. Essa abordagem representa um importante avanço na metodologia do ZARC, uma vez que quantifica a redução de risco de déficit hídrico com manejo conservacionista do solo e, por conseguinte, estimula a adoção de boas práticas de manejo pelos produtores rurais e valoriza a assistência técnica especializada. Esse trabalho faz parte da rede ZARC, liderada pela Embrapa Agricultura Digital. A próxima etapa do trabalho é a validação dos NM em lavouras comerciais.
Tabela 1. Critérios e indicadores para enquadramento das áreas de cultivo de soja e milho em níveis de manejo (NM) (Debiasi et al., 2022). Quanto maior o o NM, mais adequado é o manejo do solo .
Indicador | Nível de manejo (NM) | |||
NM1 | NM2 | NM3 | NM4 | |
1) Tempo sem preparo do solo em área total (anos) | < 3 | 3 a 5 | 6 a 8 | > 8 |
2) Porcentagem de cobertura do solo na semeadura da soja | < 45 | 45 a 60 | 60 a 75 | > 75 |
3) V% (0-20 cm)1CTC < 7,0 cmolc dm-3CTC 7,0 a 10,0 cmolc dm-3CTC > 10,0 cmolc dm-3 | < 35< 40< 50 | 35 a 4040 a 4550 a 55 | 41 a 5046 a 5556 a 65 | > 50> 55> 65 |
4) Teor de Ca2+ (cmolc dm-3)(20-40 cm) | < 0,5 | 0,5 a 0,7 | 0,8 a 1,0 | > 1,0 |
5) m% (20-40 cm)2 | > 20 | 10 a 20 | 5 a 9 | < 5 |
6) IQEs – DRES3 | < 2,0 | 2,0 a 3,0 | 3,0 a 4,0 | >4,0 |
7) Diversidade de culturas considerando os últimos 3 anos agrícolas | Requisitos dos outros NMs não atendidos ou não informados | – 4 cultivos; e– 2 espécies vegetais; e– 2 famílias botânicas. | – 6 cultivos; e– 2 espécies vegetais; e– 2 famílias botânicas; e– 1 cultivo exclusivo envolvendo plantas de cobertura do solo (solteiro ou consorciado) por mais de 4 meses OU 3 cultivos de consórcio grãos + cobertura ou 3 cultivos de cobertura na janela outonal ou de fim de inverno, com permanência na área por menos de 4 meses. | Sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) envolvendo o cultivo de pastagens por um ano ou mais na mesma área |
– 6 cultivos; e– 4 espécies vegetais; e– 2 famílias BOTÂNICAS; e– 3 cultivos envolvendo plantas de cobertura do solo (solteiro ou consorciado com outras plantas de cobertura ou para produção de grãos), com pelo menos 1 cultivo exclusivo por mais de 4 meses. |
1 V% = saturação por bases (Ca2+ + Mg2+ + K+ / CTC pH 7,0); 2 m% = saturação por alumínio (Al3+/CTC efetiva); 3 IQEs = Índice de qualidade estrutural do solo, pelo diagnóstico rápido da estrutura do solo (DRES) – Ralisch et al. (2017).
Equipe envolvida no trabalho: Henrique Debiasi, Julio Cezar Franchini, José Renato Bouças Farias, Alvadi Antonio Balbinot Junior (Embrapa Soja); José Eduardo Boffino de Almeida Monteiro (Embrapa Agricultura Digital); Osmar Conte, Gilberto Rocca da Cunha (Embrapa Trigo); Moacir Tuzzin de Moraes (Esalq-USP); Fernando Antonio Macena da Silva (Embrapa Cerrados); Balbino Antônio Evangelista (Embrapa Pesca e Aquicultura); Anderson Carlos Marafon (Embrapa Tabuleiros Costeiros)
Fonte: Canal Rural