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quarta-feira, outubro 23, 2024
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Seguro rural: a ameaça silenciosa à economia brasileira

A ausência de um programa robusto de seguro agrícola coloca em risco a imagem do país no cenário internacional.

No vasto cenário do agronegócio brasileiro, uma sombra paira sobre o horizonte, não apenas afetando o setor de seguros, mas reverberando por toda a economia nacional.

Estamos diante da iminente escassez de recursos destinados ao Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), uma situação que está levando produtores a ponderarem a possibilidade de deixar desprotegidas suas safras no ciclo 2023/24, atualmente em pleno plantio.

Este programa, vital como uma apólice de seguro contra as mudanças climáticas, assume um papel crucial na sustentabilidade do setor agrícola. Agricultura, por sua natureza, é uma indústria que envolve altas apostas, com tecnologia de ponta e investimentos substanciais, mas, ao mesmo tempo, é vulnerável a imprevisibilidade e fúria do clima.

Sob a lente macroeconômica, o sucesso ininterrupto do agronegócio brasileiro é evidente, contribuindo com impressionantes 27% do PIB nacional e mantendo o Brasil no topo das exportações agropecuárias globais.

Entretanto, a ausência de seguro agrícola pode resultar em uma crise econômica devastadora, especialmente para pequenos e médios produtores, cujas quebras podem reverberar por toda a economia nacional.

A recente promessa do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de adicionar R$ 500 milhões ao PSR é um passo positivo, mas será suficiente para enfrentar os desafios iminentes da safra 2023/24?

O aumento proposto elevaria o montante total do programa para R$ 1,5 bilhão, enquanto nos Estados Unidos, que compartilham um cenário agrícola similar, o programa de seguro atinge a marca de R$ 25 bilhões. Em 2022, o Brasil pagou mais de R$ 10 bilhões em sinistros devido a eventos climáticos.

Programa de seguro rural brasileiro

Embora reconheçamos avanços no programa de seguro rural brasileiro, sua evolução tem sido lenta diante do crescimento exponencial do agronegócio. O valor alocado é insuficiente, não acompanhando os aumentos nos custos de produção e nos prêmios de seguros, que se ajustaram devido às indenizações expressivas das últimas safras.

Atualmente, o seguro é percebido como um custo, não como uma ferramenta essencial de gestão de riscos. Essa percepção precisa mudar, e o governo federal tem um papel fundamental nessa transformação.

Em um país onde a agricultura é a principal vantagem competitiva, discutir a falta de recursos para um programa de seguro robusto é inconcebível. A ausência desse programa compromete não apenas a segurança financeira dos produtores, mas também a confiança internacional em nossa capacidade de garantir a segurança alimentar global.

Enquanto os Estados Unidos seguram mais de 90% de sua produção agrícola, no Brasil, esse número não chega a 20%. Essa disparidade resulta em custos mais elevados de financiamento, menor investimento em infraestrutura e insumos mais caros, revelando um setor de seguros tímido e com produtos pouco sofisticados para atender ao agro brasileiro.

Além do risco financeiro iminente para os produtores, a falta de recursos adequados para o PSR pode desencadear uma série de eventos em cascata que afetarão diretamente a economia local.

Pequenos e médios produtores, uma vez descapitalizados, enfrentarão dificuldades em honrar seus compromissos com fornecedores e compradores, criando uma cadeia de inadimplência que reverberará por todo o país. A crise resultante pode minar a estabilidade econômica, criar desafios para o setor financeiro e comprometer a confiança dos investidores.

Sem seguro rural, o Brasil é um gigante com os pés de barro! A ausência de um programa robusto de seguro agrícola coloca em risco a imagem do país no cenário internacional. Em um mundo onde a segurança alimentar é uma prioridade global, o Brasil, líder em exportações agropecuárias, deve liderar pelo exemplo, assegurando uma produção sustentável e resistente às intempéries.

Em vista disso, é crucial que o governo federal não apenas reconsidere a alocação de recursos para o PSR, mas também adote uma abordagem proativa na revisão das políticas de seguro agrícola. Aumentar significativamente os subsídios é uma medida urgente para fortalecer a resiliência do setor, proteger os produtores individuais e garantir a continuidade do sucesso do agronegócio brasileiro.

* Gustavo Junqueira é membro do Conselho de Administração da Alper Consultoria e Corretora de Seguros e Ex-Secretário de Agricultura do Estado de São Paulo. André Lins Bahia Cardoso é Vice-Presidente de Agro da Alper Consultoria em Seguros.

Obs: As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural

Fonte: GloboRural

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