Adversidades não faltaram: recessão, greve de caminhoneiros, pandemia de Covid-19, quebra de safra, guerra na Ucrânia. Mesmo assim, o mercado do trabalho formal do agronegócio – que abrange a produção no campo e na agroindústria – aumentou e passou a pagar salários maiores.
Segundo levantamento realizado pelo Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV) com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor criou 366,3 mil empregos com carteira assinada entre os segundos trimestres de 2016 e 2023, o que corresponde a uma expansão de quase 7%.
A remuneração média mensal cresceu 12,6% em termos reais, já descontada a inflação, passando de R$ 1.793,69 para R$ 2.018,99. É quase o triplo do crescimento da remuneração média de todas as ocupações, que avançou apenas 4,3%.
O FGV Agro observa que essa tendência resultou na redução da disparidade salarial entre o agronegócio e a média de todos os setores da economia. Em 2016, os trabalhadores do agronegócio recebiam 66% da média salarial nacional. Em 2023, essa proporção aumentou para 71,2%.
“Dentro da porteira” estão os maiores ganhos do agronegócio
O aumento das remunerações no agronegócio foi impulsionado principalmente pela expansão “dentro da porteira”. O salário médio mensal na pecuária teve um crescimento real de 22,3%, atingindo R$ 2.063,66. Na agricultura, a correção foi ainda maior, de 25,9%, totalizando R$ 1.764,22.
Por outro lado, a agroindústria não registrou aumento em sua remuneração média mensal, com uma queda exclusiva no segmento de alimentos e bebidas de 6,9% no período.
No entanto, o segmento de produtos não alimentícios, que engloba insumos agropecuários, produtos têxteis, produtos florestais, biocombustíveis e tabaco, viu sua remuneração média mensal crescer 1% em termos reais no mesmo período.
Número de informais caiu 10,3% em sete anos
A informalidade no agronegócio diminuiu durante o período analisado, com uma queda de 10,3% no número de trabalhadores informais, resultando no fechamento de 924,3 mil postos. São considerados informais os empregados sem carteira assinada, empregadores e trabalhadores por conta própria sem CNPJ e trabalhadores familiares auxiliares.
Esses resultados indicam que, embora o mercado de trabalho no agronegócio tenha encolhido ao longo do tempo em termos de empregos totais (3,9% ou 558 mil postos), a qualidade dos empregos aumentou, uma vez que os trabalhadores formalizados têm direitos trabalhistas, maior estabilidade e remunerações melhores. Assim, o agronegócio alcançou seu maior número de empregados com carteira e maior taxa de formalização para um segundo trimestre.
Na realidade do conjunto dos setores, o mercado de trabalho cresceu 9,1% entre o segundo trimestre de 2016 e 2023, impulsionado principalmente pela expansão do emprego informal (+12,4%). O emprego formal (com carteira assinada) cresceu em proporção menor (+6,7%).
Esse cenário contribuiu para uma queda na taxa de formalização do mercado de trabalho brasileiro nos últimos sete anos, passando de 58,9% no segundo trimestre de 2016 para 57,7% no mesmo período de 2023. Enquanto isso, no agronegócio a taxa de formalização subiu de 37,3% para 41,5%.
Produção “dentro da porteira” sente pouco as turbulências
Em relação à produção agrícola, ela foi pouco afetada pelos momentos de turbulência e, mesmo com quebras de safra ao longo do período, acumulou um crescimento de 34,1% na produção de grãos entre os ciclos 2016/17 e 2022/23, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
A pecuária também teve um bom desempenho, com poucos efeitos negativos da pandemia da Covid-19 em termos de produção. O setor se beneficiou do aumento da demanda internacional por carnes brasileiras, especialmente devido à peste suína africana, que atingiu a China. Nos últimos sete anos, o valor bruto de produção (VBP) da pecuária teve um aumento de 14,6%, destaca o Ministério da Agricultura.
Por outro lado, a atividade “fora da porteira” sentiu mais os impactos das turbulências registradas entre 2016 e 2023. No segundo trimestre deste ano, a produção agroindustrial estava 4,4% abaixo do patamar de 2016, de acordo com os dados do Índice de Produção Agroindustrial (PIMAgro) do FGV Agro.