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sábado, outubro 26, 2024
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Brasil – Impacto no Agribusiness devido ao conflito Israel e Palestina

As exportações brasileiras de soja e milho continuam a crescer no acumulado de 2023, em
relação a 2022. Até setembro, o Brasil está exportando, em volume, +24% de soja e +36% de milho. A primeira estimativa da CONAB, para a safra 23/24, é de 317,5 milhões de toneladas, queda de 1,5% em relação à produção de 22/23. A previsão para a produção de soja é de um aumento de 4,8%, enquanto para o milho a previsão é de uma redução de 9,5%.
A questão agora é entender o risco que o conflito entre Israel e a Palestina pode gerar no
agribusiness brasileiro, principalmente para a safra 23/24.

CURTO PRAZO: Duas ou três semanas
No cenário de duração do conflito entre duas e três semanas, não é previsto impacto no
agribusiness brasileiro, pois as exportações do agribusiness não devem ser impactadas, nem o custo dos insumos deve ser inflado, devido ao conflito Israel – Palestina.

Em 2023, o Brasil exportou USD 570m para Israel, menos de 1% do total de exportações. E importou USD 1,1bi, sendo USD 0,5bi importações de fertilizantes. A relação comercial com a Palestina é praticamente inexistente.

MÉDIO PRAZO: Três a seis meses
Caso este conflito se prolongue após 3 meses, poderemos começar a sentir alguns impactos de pequena magnitude no agribusiness brasileiro. Após 3 meses, acreditamos que seja prazo suficiente para impactar o preço do petróleo global. Aumentando o preço do petróleo, que já se encontra em níveis elevados, aumentará também o custo de produção de fertilizantes, principalmente os nitrogenados. Em menor escala, o aumento dos preços do petróleo aumentará o custo global de energia, impactando no custo de produção de materiais primas usadas na fabricação de agroquímicos, fertilizantes em geral e no custo dos fretes internacionais.

Os fertilizantes produzidos em Israel representam “somente” 4% dos fertilizantes importados pelo Brasil, facilmente substituídos no caso do conflito Israel com a Palestina se prolongue e impeça a sua produção.

LONGO PRAZO: Mais que um ano
Considerando a hipótese deste conflito se prolongar por mais de um ano, ou em caso de outros países árabes (Irã, Egito, Arábia Saudita, Jordania, Líbano, Síria, etc.) decidam participar deste conflito, o impacto para o agribusiness brasileiro pode ser significativo, tanto pelo impacto nas exportações do agribusiness, devido ao bloqueio marítimo criado com este conflito, como pela dificuldade de importação de fertilizantes, pelo mesmo motivo.

Em 2023, até setembro, o agribusiness brasileiro exportou 6% de suas exportações para os países do Oriente Médio (carne de frango, açúcar, milho, carne bovina e produtos do complexo soja).
No mesmo período as importações de fertilizantes dos países árabes (Marrocos, Egito, Arábia Saudita, Omã, Catar e Jordania) representaram 20% do total de fertilizantes importados.

O maior efeito desta guerra prolongada será certamente o aumento significativo do custo de energia, proveniente do aumento do preço do petróleo, que é produzido nesta região. A eventual redução de produção de petróleo, nesta região, pode desequilibrar a relação oferta e demanda desta commodity, fazendo com que o petróleo, potencialmente, possa alcançar, em certos períodos, valores na faixa de USD 120 a USD140/barril.

Este nível de preço do petróleo gerará uma energia até 50% mais cara que hoje. Esta energia mais cara pressionará a inflação nos países desenvolvidos e emergentes, num momento que os Bancos Centrais estão controlando a inflação proveniente dos desequilíbrios de oferta e demanda, gerados com a pandemia da Covid-19.
Um exemplo deste potencial aumento de energia, caso a guerra se prolongue, é o que já está acontecendo hoje com o custo do gás natural na Europa. O equilíbrio entre oferta e demanda do gás europeu é muito instável, devido à guerra da Ucrânia, assim somente oito dias de conflito entre Israel e a Palestina já fizeram o gás europeu aumentar 32%, desde 6/10.

Resumindo, os impactos deste conflito, sobre o Agribusiness Brasileiro, serão mínimos, se este conflito se resolver em poucas semanas. A partir de 3 meses, começaremos a ouvir fornecedores falando em aumento de preços, devido ao impacto do aumento do custo de energia. E, se este conflito se prolongar por 1 ano, certamente seremos impactados nas exportações do agribusiness, além de recebermos um significativo aumento nos insumos agrícolas.

ANTONIO CARLOS M GUIMARÃES, ex-CEO da Syngenta na America Latina, ex-CFO da Louis Vutton Moet-Hennessy,
membro de Conselhos de Administração de empresas do Agribusiness.

Fontes: USDA, Blomberg, Radar Agro, MB Agro, BB Investimentos e Secex

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