Brasília 21/08/23 – O cenário do seguro agrícola no Brasil tem sido marcado por dados expressivos e desafios constantes. Com base nos recentes números do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), fornecidos pelo Atlas do Seguro Rural, analisando-se os dados da SUSEP, as observações sobre o status das lavouras da Conab e previsões meteorológicas do Inmet, é possível traçar um panorama do setor e compreender o ambiente em que esse mercado opera.
Dados do PSR: Crescimento e Desafios
Os dados do PSR até o momento revelam: são 59.222 produtores atendidos e 89.047 apólices contratadas. A área segurada abrange 4,8 milhões de hectares, com um valor segurado total de R$ 33,3 bilhões. O prêmio total alcançou R$ 2,75 bilhões, e a subvenção utilizada atingiu a marca de R$ 844,2 milhões, representando 83% do montante total de R$ 1,06 bilhão disponibilizado. Essa subvenção tem sido crucial para incentivar a adoção do seguro agrícola e proteger os produtores contra os riscos inerentes à atividade.
Contudo, um ponto de atenção é o esgotamento previsto dos recursos do programa na primeira semana de setembro, caso a demanda por subvenção continue no mesmo ritmo.
Sinistralidade: Tendências e Reflexos
A sinistralidade, que indica a relação entre o valor pago em indenizações e o valor total de prêmios, tem apresentado oscilações significativas nos últimos anos. Em 2023, com base nos dados da SUSEP, a sinistralidade está em 55%, o que representa uma redução notável em comparação com os últimos cinco anos, nos quais o indicador ultrapassou 80%, chegando a mais de 100% em 2021 e 2022. Isso indica que, nesses dois anos, o valor pago em indenizações superou o montante arrecadado em prêmios.
Apesar da melhoria observada em 2023, ainda é relevante considerar que os valores das provisões totalizam mais de R$ 4,4 bilhões. Estas provisões incluem uma estimativa de indenizações de sinistros que ainda irão ocorrer, valores esperados relativos a sinistros já avisados e valores esperados relativos a sinistros já ocorridos, mas ainda não avisados. Isso demonstra a necessidade contínua de uma gestão prudente das reservas para garantir a capacidade de pagamento de indenizações em momentos de necessidade.
Status das Lavouras
O acompanhamento das lavouras no Brasil oferece informações cruciais para a avaliação dos riscos associados ao seguro agrícola. Os números recentes da Conab indicam que o milho de segunda safra tem 79% da colheita concluída e 20% em maturação, enquanto no ano anterior, 90% já haviam sido colhidos nessa mesma época. No entanto, ainda restam 66% da área semeada no Paraná e porções significativas nos estados do Mato Grosso do Sul e São Paulo.
No caso do algodão, 68% da colheita foi realizada, com 32% em formação de maçãs. Esses números contrastam com os 88% colhidos até 20 de agosto de 2022. A colheita ainda está por ser concluída em estados como Minas Gerais, Mato Grosso, Bahia e Maranhão. As porções não colhidas também incluem 21% da área em Goiás e 15% no Mato Grosso do Sul.
Quanto ao trigo, apenas 5% foram colhidos, um número consistente com 2022. Da área semeada, 47% estão em desenvolvimento vegetativo, 29% em floração ou maturação e 19% na fase de enchimento de grãos.
Precipitação
O Informativo Meteorológico Nº 33/2023, emitido pelo Inmet, fornece informações essenciais sobre precipitação e temperatura para a avaliação de riscos climáticos, o que destaca a importância do seguro agrícola em proteger os agricultores contra eventos extremos.
No período de 16 a 20 de agosto de 2023, houve uma acumulação de chuva superior a 30 milímetros (mm) nas áreas que abrangem a Região Sul, Mato Grosso do Sul e partes específicas do leste da Região Nordeste. Em contraste, em outras localidades do país, prevaleceu um clima seco e uma umidade relativa do ar reduzida, sobretudo nas regiões setentrionais das áreas Centro-Oeste e Sudeste, assim como nas regiões englobadas pelo Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
A previsão para o intervalo de 21 a 28 de agosto de 2023 aponta para uma intensificação nos volumes de chuva nas regiões noroeste do país e nas áreas situadas no leste da Região Sudeste. Grande parte do território nacional, incluindo tanto as regiões centrais quanto os interiores da Região Nordeste, enfrentará temperaturas elevadas, um período de tempo seco e um índice de umidade reduzido.
Temperatura
Nos últimos cinco dias, o Brasil experimentou temperaturas máximas acima de 30°C, atingindo valores extremos de mais de 38°C em regiões como o Matopiba e o sudeste do Pará. Em contrapartida, as temperaturas mínimas nos mesmos cinco dias ficaram abaixo de 18°C no centro-sul do país e acima de 20°C no norte. Registrou-se um destaque especial para 20 de agosto, quando altas máximas foram alcançadas, incluindo 43,3°C em Turiaçu (MA), 40,1°C em Santa Rosa do Tocantins (TO) e 40,0°C em Peixe (TO), enquanto nas áreas do centro-sul, as máximas não ultrapassaram 30°C.
Para os próximos dias, é prevista a ocorrência de ondas de calor significativas no centro e norte do país, mantendo as máximas acima de 28°C e podendo exceder 38°C em áreas das regiões Centro-Oeste, Sudeste, Norte e interior do Nordeste. Acentua-se que, em 22 de agosto, temperaturas máximas podem ultrapassar 30°C em quase todo o Brasil, chegando a mais de 40°C em partes de Mato Grosso e do sul da Região Norte. Ao final da semana, espera-se um declínio nas temperaturas mínimas nas regiões Sul e sul do Sudeste, com valores abaixo de 20°C, enquanto no centro e norte do país, as mínimas podem superar 24°C.
De maneira relevante para o setor agrícola e o seguro rural, há a possibilidade de ocorrência de geada no fim de semana em áreas do Rio Grande do Sul e nas serras de Santa Catarina. Este evento climático pode representar um risco adicional para as culturas, enfatizando a importância da cobertura do seguro agrícola como uma salvaguarda contra perdas ocasionadas por eventos climáticos adversos. Em 26 de agosto, espera-se temperaturas mínimas entre 22°C e 28°C em grande parte das regiões Norte e Centro-Oeste, bem como no interior do Nordeste, enquanto no centro-sul, sul de São Paulo, extremo sul de Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, temperaturas abaixo de 18°C são esperadas. Valores menores que 10°C são antecipados no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e extremo sul do Paraná.
Conclusão
O cenário do seguro agrícola no Brasil é influenciado por uma série de fatores, incluindo dados econômicos, tendências climáticas e o estado das lavouras. A análise dos dados do PSR mostra um crescimento sólido e a necessidade de gerenciamento eficaz dos recursos do programa. A redução na sinistralidade em 2023 é um sinal positivo, mas a prudência na gestão das provisões continua sendo essencial.
As observações sobre as lavouras oferecem insights valiosos sobre os desafios enfrentados pelos agricultores e ressaltam a importância do seguro agrícola como uma ferramenta de mitigação de riscos. As previsões meteorológicas destacam a variabilidade climática e a necessidade de proteção contra eventos extremos.
No panorama em constante evolução do setor agrícola, o seguro agrícola desempenha um papel fundamental na promoção da resiliência dos produtores e na sustentabilidade do setor como um todo, em especial em um contexto de mudança climática. A análise dos dados e tendências atuais oferece uma visão abrangente para tomadas de decisão informadas e estratégias de gestão de riscos mais eficazes.
Autor: Luís Augusto Crisóstomo – Economista na Coord. Geral de Seguro Rural / Departamento de Gestão de Risco do Ministério da Agricultura e Pecuária.
Parabéns, Luís Augusto! O artigo ficou muito bom e esclarecedor. Maravilha!