A crise entre o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) revela um problema mais profundo: o distanciamento do Ministério da Agricultura da base produtora e a perda de relevância política dentro do próprio governo. O que deveria ser um canal de diálogo entre o setor agropecuário e Brasília se transformou em um ministério isolado, sem interlocução e com pouca influência nas decisões estratégicas.
No Mato Grosso, estado de origem do ministro, o cenário não é diferente. O diálogo de Fávaro com os produtores é praticamente inexistente, e entidades representativas, como a Aprosoja-MT, simplesmente não o reconhecem como uma liderança legítima do setor. Para a classe produtora mato-grossense, o ministro falhou na missão de ser um elo entre Brasília e os interesses do agro.
E se o chefe da pasta já enfrenta dificuldades, seu vice, o secretário-executivo Irajá Lacerda, também mato-grossense de Cáceres, segue o mesmo caminho da irrelevância. Lacerda, que deveria ter um papel ativo na articulação política do MAPA, parece confinado ao 9º andar do Bloco D, sem qualquer contato com a realidade do agro fora dos gabinetes de Brasília. A falta de conexão com o setor produtivo reforça a percepção de que a atual gestão do Ministério da Agricultura está alheia às demandas do campo.
O isolamento de Fávaro não se restringe ao agro. Dentro do próprio governo, sua influência está sendo minada. Um exemplo claro disso foi a recente suspensão do Plano Safra, anunciada pelo Tesouro Nacional sem qualquer aviso prévio ao MAPA. Se o ministro tivesse peso político real dentro da Esplanada, dificilmente teria sido surpreendido por uma decisão tão relevante para o setor.
O rompimento com a FPA só aprofundou essa crise. A principal frente política do agronegócio declarou que não pretende mais dialogar com Fávaro, considerando sua atuação irrelevante dentro do governo Lula. O ministro, que deveria ser um articulador, se vê agora isolado tanto no setor produtivo quanto no meio político.
Diante desse cenário, a grande questão é: qual será a estratégia de Fávaro para tentar se reaproximar do agro e garantir apoio político em Mato Grosso? Até agora, seu principal feito foi a abertura de novos mercados internacionais – um ponto positivo, mas que não compensa a falta de diálogo com a base produtora e a crescente perda de influência dentro do governo.
Com os preços dos alimentos pressionando o Planalto e a necessidade urgente de ajustes na política agrícola, a posição de Carlos Fávaro no comando do MAPA se torna cada vez mais instável. O presidente Lula terá que decidir se mantém um ministro sem apoio ou se promove mudanças na pasta para tentar reconstruir pontes com o setor agropecuário.
Por enquanto, a fritura continua, e a cadeira de Fávaro no Ministério da Agricultura parece cada vez mais incerta.
📌 Agrometrópole – Análises e bastidores do agro no Brasil.