Na nova semana que começou nesta segunda-feira, 6 de maio, o sentimento do povo gaúcho se divide entre o breve alívio que novas chuvas deram ao estado, com céu aberto e baixos e pontuais volumes voltando a cair, e a preocupação com mais precipitações previstas para as próximas semanas, com cenários se agravando e a força da água chegando a ainda mais lugares. Além disso, com a água baixando em algumas regiões, o rastro de destruição fica ainda mais evidente, bem como a necessidade que o Rio Grande do Sul terá, de anos, para se reconstruir.
Atualização: RS já tem mais de R$ 500 milhões em perdas na agropecuária até o momento
Na nova semana que começou nesta segunda-feira, 6 de maio, o sentimento do povo gaúcho se divide entre o breve alívio que novas chuvas deram ao estado, com céu aberto e baixos e pontuais volumes voltando a cair, e a preocupação com mais precipitações previstas para as próximas semanas, com cenários se agravando e a força da água chegando a ainda mais lugares. Além disso, com a água baixando em algumas regiões, o rastro de destruição fica ainda mais evidente, bem como a necessidade que o Rio Grande do Sul terá, de anos, para se reconstruir.
“A gente nem sabe mais se está em segurança. A minha propriedade é bem alta, não vai chegar. Em Pelotas, moramos no local mais alto da cidade. Mas, vai ser caótico, porque aqui não tem para onde ir a água. A rodoviária da cidade é abaixo do nível do mar, o centro de eventos onde acontece a Fenadoce tem cinco metros de altitude. Então, a maior parte da cidade, a maior parte de Pelotas, está a dois metros do nível do mar. Toda essa chuva que subiu, que deu problema para cima de Santa Maria, estava aqui, já choveu 500 mm aqui. E esses 500 vão voltar pelo Guaíba, já estão voltando”, relata Sandro Rockembach, engenheiro agrônomo, produtor rural e atuante no comércio de insumos, ao Notícias Agrícolas.
Ele ainda complementa dizendo que “a nossa única salvação é rezar para que o vento faça força norte. Só que o vento norte tem pouquíssima ocorrência na região, ele só é formador de chuvas. Ele ocorre um dia, dois antes da chuva, e para. Depois vira nordeste, noroeste. E se ele virar sul, não precisa chover nenhuma gota, porque vai represar toda a água e sobe água na cidade. Já choveu 200 mm e está marcando mais 60 mm até amanhã”.
Enquanto Sandro faz seu relato é possível ouvir a chuva ainda forte ao fundo. E é por conta dela que as preocupações ocupam mais espaço do que o breve alívio que chegou ao coração ao menos de uma parcela do povo rio-grandense nesta segunda-feira. “Toda água que chegar só vai se empilhar por cima dessa”, lamenta. “E não tem o que fazer, a não ser ajudar as pessoas”.
O cenário descrito pelo produtor é o mesmo de milhares de pessoas e retrata os 345 de 497 municípios do Rio Grande do Sul que foram afetados, deixando – até o momento da publicação desta reportagem – 83 mortos, 276 feridos, 111 desaparecidos e mais de 140 mil pessoas desalojadas ou desabrigadas. Mais de 850 mil pessoas, de alguma forma, foram afetadas pelas enchentes deste 2024, a pior e mais grave da história do estado.
“A Confederação Nacional de Municípios (CNM) acompanha com muita tristeza a tragédia enfrentada pela população do Rio Grande do Sul e lamenta profundamente que os Municípios de todo o Brasil sofram cotidianamente com desastres de toda natureza que levam a perdas de vidas, moradias, comércio local, indústria, agricultura, entre outros danos irreparáveis. Destaca-se que apenas entre os dias 29 abril e este domingo, 5 de maio, as tempestades que estão assolando o Estado do Rio Grande do Sul já causaram mais de R$ 559,8 milhões em prejuízos financeiros. Esse montante, porém, se refere apenas aos danos já levantados e disponibilizados por 19 Municípios dentre os 170 que registraram seus decretos no sistema de Defesa Civil nacional; sendo que já são mais de 330 Municípios afetados, segundo a Defesa Civil do Estado. Ou seja, os danos serão infinitamente superiores aos já apontados”, informa a CNM (Confederação Nacional dos Municípios).
Segundo a confederação, o setor agropecuário foi o mais afetado pelas cheias e os prejuízos, segundo dados atualizados na noite desta segunda-feira (6), já chegam a R$ 506,8 milhões, refletindo apenas o que pôde ser mensurado até agora.
Nos campos, conforme o nível das águas vai baixando – mesmo que pontualmente – é possível começar a mensurar os prejuízos. O sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, Carlos Cogo, elencou algumas preocupações que se dão sobre as principais cadeias produtivas do estado, entre elas soja, arroz e carnes. Afinal, o estado é o segundo maior produtor da oleaginosa do país, o maior de arroz e importante produtor de proteínas animais.
SOBRE A SOJA
“Os Trabalhos de colheita estavam em 70% da área total até o início das inundações. Os 30% restantes não haviam sido colhidos, representando cerca de 2 milhões de hectares e 6,5 milhões de toneladas”, afirma Cogo. No entanto, “estimativas precisas das perdas ainda não são possíveis. Esse volume sob risco representa 5% da safra estimada para o país, de 147 milhões de toneladas”.
Assim, o especialista acredita que os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago deverão seguir elevados, carregando ainda um prêmio de risco climático considerável neste momento. “Essa contabilização das perdas nas áreas não colhidas influenciará as cotações. Nesta segunda, as cotações voltaram a subir e terminaram o dia com altas de 21,50 a 32,75 pontos nas posições mais negociadas, com o maio valendo US$ 12,34 e o julho, US$ 12,45 por bushel.
As imagens abaixo mostram as condições da soja que está sendo colhida onde é possível nos EUA, depois de toda a chuva das últimas semanas e que se intensificaram em 27 de abril.