Para secretário de Política Agrícola, não se pode renegociar dívidas de forma “aleatória”
O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, afirmou nesta terça-feira (06/02), que é preciso ter “cautela e juízo” na definição de medidas para socorrer os produtores do país diante dos problemas climáticos e financeiros desta safra. Ele disse que não se pode renegociar dívidas de forma “aleatória” e que será preciso dimensionar o tamanho do problema no campo.
Geller ainda ponderou que grande parte dos produtores tiveram ganhos de rentabilidade nos últimos anos e evitou qualquer alarmismo com a situação atual para não espantar possíveis investidores, o que pode encarecer o crédito.
“Não dá para sair falando que vai renegociar de forma aleatória. A colheita ainda está acontecendo. Não vamos trazer para dentro do governo um problema que não sabemos o tamanho”, afirmou a jornalistas após uma reunião com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
Geller disse que vai ouvir o setor para dimensionar o problema e encaminhar soluções “se o problema eventualmente estiver instalado”. Recentemente, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que o governo agiria para evitar uma “crise iminente” no agronegócio. Agora, o governo mudou o tom e tem evitado falar nesses termos.
O secretário ainda disse que é preciso ponderar os ganhos obtidos pelo campo nos últimos anos, o que ajuda a suavizar em alguns casos o impacto dessa temporada. “É importante a reflexão. Os últimos anos foram de bastante renda ao produtor, não podemos sair assustando os investidores, isso dificulta o crédito. O produtor também teve renda. Vamos medir o tamanho do problema, consolidar e depois encaminhar soluções”, apontou
Neri Geller pontuou que algumas medidas já foram anunciadas, como a criação de linha de capital de giro para cooperativas de leite e a ampliação do volume de recursos na linha em dólar para investimentos. Ele reforçou que o governo trabalha com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para criar uma linha dolarizada para custeio de produtores com dificuldades financeiras nesta safra e citou outras propostas, como a ampliação do escopo dos Adiantamentos sobre Contrato de Câmbio (ACC) e a regulamentação dos Fiagros.
Questionado sobre as mudanças promovidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) nas regras de lastro e prazo das emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), Geller disse que ainda não se inteirou do assunto.
“Mas, com certeza, tudo que depender do governo para flexibilizar, aumentar volume de recursos, seja com participação do governo ou iniciativa priva, vamos fazer. Direta ou indiretamente tudo tem participação do governo, se não por equalização tem por renúncia fiscal”, disse.
“Os CRAs, os ACCs, é jogo de movimento que precisa ser feito para irrigar crédito na agricultura, que estimula a concorrência, reduz custo, spread. Estamos atentos, vamos nos inteirar bem e ver como atuar junto à equipe econômica para amenizar isso”, completou.
Prioridades no ano
O secretário Neri Geller afirmou ainda que a questão orçamentária ainda preocupa. Ele citou as verbas destinadas às ações de apoio à comercialização e seguro rural, ambas na casa de R$ 1 bilhão.
“Estamos com orçamento da comercialização totalmente achatado. É muito difícil fazer. Em 2013 e 2014 tínhamos R$ 6 bilhões para comercialização, hoje temos R$ 1 bilhão, é muito pouco, tendo em vista que nós dobramos a produção nesse período, o custo de produção quase triplicou e o orçamento veio de R$ 6 bilhões para R$ 1 bilhão. Sabemos das limitações, mas vamos ter que trabalhar isso junto com o Congresso Nacional”, apontou.
Sobre o seguro rural, Geller disse que o governo já tem áreas consensuadas, inclusive o Ministério do Desenvolvimento Agrária (MDA), para fazer mudanças no Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e remanejar recursos para o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR).
Essa foi a primeira reunião do novo secretário com a FPA, da qual ele foi vice-presidente recentemente. A presença de Geller no ministério é uma aposta do ministro Carlos Fávaro para melhorar a interlocução com o Congresso e com o setor produtivo.
Fonte: Globo Rural